"Será que não me vendi?", foi o que eu me perguntei um dia desses, enquanto explicava o que é que faço e quais são as minha funções no trabalho. E o mais curioso é que, como sempre, eu só falei a verdade - e inclusive bem pouco estetizada.
Mas o fato é que há infinitas maneiras de dizer a verdade - fato que, por si só, transfere grande parte do valor que há (e que um dia houve), na verdade, para o sempre tão encantador modo-de-contar.
No caso, ela, ela mesmo: a NARRATIVA.
Contudo, eu, tão ALGUM quanto LUCAS, nessa campanha febril (e pueril) contra a minha própria (e presumida) vaidade, ainda não fiz as pazes com o fato de que não tenho uma história pra contar. Própria, porque peculiar nas suas manifestações - como o simples fato de crê-la presumida. Presumida, pela curiosa consciência de somente ter com ela os contatos mais oblíquos. Queria ter nascido filósofo, mas me restou nascer poeta.
Quando me sinto bom, sei que na verdade falho por não conseguir me sentir o melhor - mesmo que de mentirinha. Quando sei que sou, de fato, o melhor, peco por saber que não deveriam me bastar as mentirinhas.
Se escrevo algo sobre mim que sai bom, sofro com os "ohs! ahs!" de quem para sempre se faz condenado pela falsa incerteza de que - oh! ah! - "alguém seria capaz de me compreender?"
Acaba me restando o deboche e faltam sempre as palavras pra dizer que sim, a bem da verdade, tenho orgulho de quem me tornei - embora, dentre as tantas outras, minha maior mediocridade seja o medo covarde de que nem sequer o que fiz de bom eu tenha coragem de assumir.
É muito mais fácil ser um "eu-mesmo" quando sou só mais algum Lucas. Ora, é sempre muito mais fácil ser um eu-mesmo-qualquer do que esse eu-mesmo com CPF, arrependimentos, aspirações e endereço onde o mundo e os boletos conseguem te alcançar.
E o ponto é justamente esse: por que me coloco (e aqui falo por nós, você e eu, que me escreve e dias depois me revisa e me relê) - por que diabos me coloco nesses limbos entre os mais ridículos "ser ou não ser" que jamais existirão?
Por que, como sempre, é tão mais fácil ponderar sobre o início e sobre o fim do mundo do que é responder do trabalho de forma que me traria alguma admiração?
Por que é que eu me tornei o cara que escreve dez parágrafos sozinho num quarto de hotel, a trabalho, sem nada a dever, mas com tamanha insatisfação? O que foi que eu conheci daquele Lucas que me assustou a ponto de viver para sempre à sombra de um pronome indefinido?
A inadequação é tamanha que até sem querer, e antes que a discussão existisse, escolhi para mim o pronome "algum" e me tornei uma piada sem graça.
Se a maneira como eu faço qualquer coisa é a maneira como faço todas as coisas, por que é que eu me preocupo em fazer tão bem o não vale nada, mas não dou (ou finjo não dar?) a mínima para tudo aquilo que tantas vezes é o mais importante pra mim?
O próprio trabalho é um bom exemplo: para este texto, o que me tirou da cama, dias atrás, e que esbocei aqui no caderno foi:
"Será que não me vendi?"
ALGUM LUCAS, saber me vender no trabalho, a imagem - e o que acredito ser saudável pra mim.
É fácil ser idealista com tudo pago.
Arte x Trabalho

E agora me pergunto: por que é que não escrevi sobre nada disso explicitamente? Será que só me restou o espaço para dizer o que sinto nas entrelinhas?
No momento, a única coragem que tenho é a de dizer a coisa mais fácil de todas - porque não deixa de ser uma daquelas minhas artimanhas oblíquas de dizer outras verdades:
eu não passo de um covarde.
20-06-24
Comments