de gaveta
Tudo o que eu começo termina
em algum lugar distante
do meu campo de visão.
E a vida segue demasiado simples
comigo chorando os meus sonhos e o mundo dizendo
que não...
É melhor seguir de terno
e gravata.
E a cada livro
que me vem, me falta uma
gaveta,
porque aprendi desde cedo que
pra desistir não existe hora certa
— então a gente engaveta.
E a vida postergada segue sem
seguir adiante
E enquanto o sonho não anda,
os pesadelos me alcançam
Será que ainda dá tempo?
Será que ainda consigo ser quem
eu quero me tornar?
E o mundo inteiro já saiu do armário,
mas eu com os meus sonhos pequenos
não consigo tirar a vida da gaveta.
E eu aprendi desde cedo que
pra desistir não existe hora certa
— então a gente engaveta.
E me refiro a mim como gente,
porque é mais fácil se doer
de uma dor compartilhada.
Mas a cada dia que passo sem
sonhar, a companhia dos outros
não me agrega nada —
porque eu preciso é
do que deixei na gaveta
bem embaixo do blazer e da camisa engomada.
Eu não sou o homem que deveria
ser, pois me disseram que
precisava de fantasias de
poder
— e tudo o que eu queria era
a coragem pra poder tirar minha vida
da gaveta e começar a escrever.
Mas não consigo
e eu aprendi desde cedo que
pra desistir não existe hora certa
— então a gente engaveta,
até que um dia a gaveta não
feche mais, e eu tenha que
me perguntar se já não passou
da hora certa, mas deu a hora do trabalho
— aperto como posso as coisas na
gaveta e me digo que um dia
desses ainda paro pra pensar
— e se me dizem que tudo tem
seu tempo, só tenho medo do
dia em que a fresta eu não consiga
mais fechar.
Algum Lucas
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