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Foto do escritorAlgum Lucas

Poema de um tempo que já saiu da gaveta




Ultimamente parece que vivo uma vida

de gaveta

Tudo o que eu começo termina

em algum lugar distante

do meu campo de visão.

E a vida segue demasiado simples

comigo chorando os meus sonhos e o mundo dizendo

que não...

É melhor seguir de terno

e gravata.

E a cada livro

que me vem, me falta uma

gaveta,

porque aprendi desde cedo que

pra desistir não existe hora certa

— então a gente engaveta.


E a vida postergada segue sem

seguir adiante

E enquanto o sonho não anda,

os pesadelos me alcançam


Será que ainda dá tempo?

Será que ainda consigo ser quem

eu quero me tornar?


E o mundo inteiro já saiu do armário,

mas eu com os meus sonhos pequenos

não consigo tirar a vida da gaveta.


E eu aprendi desde cedo que

pra desistir não existe hora certa

— então a gente engaveta.


E me refiro a mim como gente,

porque é mais fácil se doer

de uma dor compartilhada.

Mas a cada dia que passo sem

sonhar, a companhia dos outros

não me agrega nada —

porque eu preciso é

do que deixei na gaveta

bem embaixo do blazer e da camisa engomada.


Eu não sou o homem que deveria

ser, pois me disseram que

precisava de fantasias de

poder

— e tudo o que eu queria era

a coragem pra poder tirar minha vida

da gaveta e começar a escrever.


Mas não consigo

e eu aprendi desde cedo que

pra desistir não existe hora certa

— então a gente engaveta,


até que um dia a gaveta não

feche mais, e eu tenha que

me perguntar se já não passou

da hora certa, mas deu a hora do trabalho

— aperto como posso as coisas na

gaveta e me digo que um dia

desses ainda paro pra pensar

— e se me dizem que tudo tem

seu tempo, só tenho medo do

dia em que a fresta eu não consiga

mais fechar.


Algum Lucas

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