Fábula #8 - Crocodilo
Admiravam-no. O pântano todo o sabia astuto. Predador maior de tudo aquilo o que desejava, bastava que se pusesse à missão, e ela se via cumprida. Invejavam-no — mais pelo que representava do que pela força, propriamente dita. No pântano, força é saber o seu lugar.
Os outros animais dispunham de fracassos, derrotas e mediocridades. Crocodilo não. Sua existência elevada a exemplo a ser seguido. Pela força que tinha, vez e outra uma cobra ou burro corajoso desafiavam-no. Defendia-se como se estivesse em jogo a sua própria morte, pois sentia como se estivesse. O alvo da idolatria chamam ídolo; e a morte do ídolo é o evanescer de sua imagem. Disseram-lhe uma vez que crocodilos não choram, e então puseram-se a brigar sorrindo.
Certo dia, entretanto, infeliz com a vida que lhe fora imposta, por um momento, cedera — e uma só lágrima sorveu. Sem nexo que houvesse nele fraquezas, incumbiram-lhe ainda outra força à força. Sem possibilidade de sofrer, tropeçar, confundir-se ou hesitar, portanto, foi aí que Crocodilo ensinou sua espécie a chorar seco. Sua prole, encantada com sua magnitude, aprendera desde muito cedo que bom mesmo era crescer como o pai.
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