Fábula #3 - QUALIS ARTIFEX PEREO
Hefesto teve a brilhante ideia de forjar um golem para suprir a enorme demanda de pedidos que lhe sobreviera. Por um tempo, a ideia mostrou-se brilhante. Requisitavam-lhe, inclusive, golens para outras funções, e Hefesto prontamente os produzia.
Com seu recém-conquistado tempo livre, e também dracma em caixa, o deus da forja resolvera tirar da gaveta o projeto há tanto tempo postergado: um martelo delicado, ferramenta da admiração e não da forja. Verdadeiro item de colecionador.
No Olimpo, desfilando orgulhoso com sua obra de arte, fomentara o desejo de seus confrades e confreiras. Não levou muito tempo para que lhe encomendassem espadas, martelos, lanças e armas sem-fim. Todas decorativas, é claro. Até o seu próprio martelo fora encorajado a passar adiante, afinal, com a situação atual do panteão, seria inconsequente para um artesão recusar o dracma.
Em uma era, já todos os divinos — e até as semidivindades — ostentavam armas luzentes, gloriosas, primeiras-edições e numeradas. Todos exceto o pobre Hefesto. Na volta de uma festividade, o pequeno golem tenta entender a tristeza do criador. Por que sofres, pai?, ele pergunta. Não tenho armas a ostentar, meu filho, responde o artesão, miserável. Mas e por que não faz uma agora mesmo para você, que é o seu inventor?, persiste o pequenino, com inocência e bondade. A situação é tal, meu filho, que posso fazê-las, mas não posso pagar por elas. Comovido, o filho olhava à dispensa, perguntando-se se havia ainda um pouco de vinho a dar de beber.
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