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EX NUNC, um romancete - 7ª Sessão

Atualizado: 21 de abr. de 2020

7ª Sessão


Olá! Boa tarde! Hoje eu estou animadíssimo-íssimo-íssimo, porque (veja só!) há três dias que eu não fumo! Por essa ninguém esperava, em? E sabe por quê? Porque é mentira-ira-ira!... Mas, falando sério, deixa eu me acomodar aqui. Então, na verdade, faz e não faz três dias que tô sem fumar. Faz, porque há três dias eu não fumo; mas não faz, porque eu comecei a contar depois do almoço de domingo, e eu tinha fumado de manhã. Então, tô me utilizando de liberdade poética aqui, porque a vida não é uma ciência exata.


Como foi? Puts, vai soar bem bobo, mas foi epifânico pra mim. Távamos eu, Júlia e o Otávio conversando, ele resolveu apresentar a namorada e tudo o mais (Carla, bem legal a menina), até que, pei!, ela levanta pra ir fumar. Aí já viu, né? Fumante não pode ver fumódromo que já fica pimpão igual digital influencer em espelho de elevador. Foi a menina levantar que eu já travei cabeça: nunca ia imaginar que o Otávio namoraria uma fumante. Quase entrei em choque. Aí eu falei pra ela que ia aproveitar pra fumar também e ele me fez a agradável pergunta "mas você não tá parando de fumar?" E eu respondi "ora, é claro que sim" e em seguida bati a mãozinha no volume do maço de cigarro no bolso. "Mas você não tem jeito mesmo..." e hahaha pra cá, hihihi pra lá, soltei fumaça pra cima e, quase como uma visão oracular, contemplei a minha estupidez: até agora (faz mais de um mês já!), eu vinha tentando parar de fumar com não apenas um — mas dois maços de cigarro no bolso! E quando tem um acabando, sempre separo o reserva já. Como pode, né? É o básico. Me sinto muito burro agora que penso nisso, e é triste, porque sempre me achei inteligente. Às vezes me sinto como se eu, na realidade (bem no fundo, no fundo), não quisesse mudar, sabe?


Então... assim, no geral eu me sinto bem. O trabalho tá melhorando, porque o Haroldo arranjou problema com um cliente e não tá mais nas graças do pessoal, aí só por isso eu já fico menos triste por lá. Contudo, porém, todavia, entretanto, em casa a coisa aperta um pouco, porque o Pai descobriu que a mãe (coitada) tá pagando a terapia pra mim e começou aquele papo de "tá grandinho já" e "vira hômi" etc. Aí lá eu me sinto um verme. Com a Júlia às vezes me sinto meio infantiloide, especialmente quando ela tá com uns amigos em volta ou a família. Acabo ficando meio alienado, sabe? Ah... porque aí ela é meio que outra pessoa, não tem as mesmas preocupações que tem quando tamos só os dois. Por exemplo, esses dias comendo com os pais dela, desembestou a falar de política e tudo o mais, e eu não tinha a mais puta ideia de quem eram os políticos em questão, muito menos que ela se interessava tanto por isso. Fiquei meio que sobrando e impressionado com o fato de ela parecer outra pessoa, completamente, pra mim. Puts, no geral, perdão (e eu saí falando por divisão geográfica, né?). Mas assim, no geral, então, eu diria que me sinto um merda mesmo.


Ah, porque eu esqueço o básico das coisas; porque insisto em me sabotar; porque nunca consigo levar as coisas até o fim; porque quando eu quero algo, ou eu consigo por privilégio, ou não consigo por não correr atrás; a lista continua. Ultimamente, mesmo melhorando com a história do cigarro, sinto que a Júlia tá um pouco infeliz comigo, sabe? Por exemplo, na mesa com o Otávio, ela não deu uma risadinha sequer quando ele me perguntou se eu tava parando de fumar. E não foi como se ela tivesse me repreendido também, simplesmente suspirou, sabe? E eu amo ela, sabe? Mas essa desesperança dela comigo me deixou preocupado. Fiquei o sábado todo meio pra baixo, até que resolvi me botar pra cima no domingo de manhã. Se eu quero alguém que me dê suporte, eu preciso também provar que valho a pena, né? (Tudo bem que eu tive esse clique fumando o cigarro matinal, mas, poxa, valeu).


Mas eu vou me esforçar essa semana, comprar flores ao invés de cigarros e tentar levá-la pra jantar. Me concentrar na coisa toda de não fumar e ver se escrevo sobre isso mesmo. Viver consciencioso (engraçada essa palavra, né? Em inglês, é bem mais fácil). Que ideia? Tipo um dever de casa? E precisa ser que tipo de texto? Todo e qualquer um que eu escreva ou só coisas que tenham a ver com como me sinto ou com o que falamos aqui? Ah, tranquilo então. E isso vai ser bom, porque me força a não procrastinar, né? Puts, já fiquei ansioso, que será que te trago semana que vem? Pode ser de piada mesmo? Você vai ler aqui comigo? Ah, entendi. Nossa, fiquei num misto de ânimo com ânsia. Não, não, não quis dizer assim, acho que vai ser bem legal, gostei da ideia.


Minha mãe? (Nossa, a gente ainda tem tempo?) Não prefere focar no cigarro, que é o problema mesmo? Ah, tranquilo, então. Poxa, minha mãe é minha mãe (pobrezinha), não tem muito mistério assim, coitada. No geral, a função dela é dar conta do Pai e do Juninho (e acho que de mim, também, né, já que é "ela" quem paga isso aqui). Por que os dedinhos de aspas? Ora, como que ela-pessoa-física pagaria algo pra mim? Nunca recebeu salário na vida. Por trabalhar, recebeu uns filhos e uns chifres e ainda agradeceu a deus-nosso-senhor. "Porque você tem que entender que o Pai..." é um merda inveterado? Enfim, ela é (coitada) a esposinha do Pai. Quando a coisa dos filhos foi tomando espaço e ela perdendo o corpitcho jovem, o Pai foi trabalhando até mais tarde, e é isso aí. "Mas você tem que entender..."; "O homem é diferente da mulher, ele..."; "Agradeça a deus pelo seu Pai, filho, que pôde sempre prover à nossa mesa..." Falando aqui eu fico é triste, sabe? Ah... porque ela é praticamente um anexo Dele, que serve à Sua vontade antes que à de deus. A única vantagem é que, quando o assunto somos nós, ela é a autoridade. Ao menos isso. Aí ela pode pagar minha terapia, os penteados e as roupinhas de playboy do Juninho... Mas, assim, última vez que vi comprar algo pra si, foi no mercado e era um megakit de tapauér (ou tupperware, se preferir). Coisa luxuosa, viu? Nunca vi plástico custar tanto dinheiro. Era mais jogo ela ter comprado joias. O que Ele acha disso? E você acha que Ele sabe andar no mercado? Sabe nem onde ficam os pratos na cozinha. Quando acorda de madrugada, se não tem prato no seca-louças, come o que tiver e larga pra fora da geladeira ou do armário, aberto e em cima da própria embalagem. Quem limpa de manhã é a mãe (tadinha). Pra ser bem, bem sincero mesmo, não posso nem te garantir que ele saiba se limpar ou amarrar os cadarços. E sei que parece piada, mas não botaria a mão no fogo por isso.


Uia, quase no limite. Mas da minha mãe (coitada) é isso, não tem muito o que dizer, ela é "mãe" e os planos que tem pro futuro são ser avó e viúva. E a vida dela é isso aí (coitadinha, meu deus). Nasceu com um puta talento pro piano, tocou até casar, o Pai não gosta de "música de boiola" e o trambolho toma muito espaço, então vendeu o piano dela, ela teve três filhos, um morreu, e agora ela tem um bebezão na asa, um mongol gigante (c'est moi), que tem a obrigação de fazer uns netos, e outro que é o seu empregador (tadinha). Acho que, chegando em casa agora, vou dar um abraço nela (coitada). Foda é que na hora já vai perguntar se a Júlia tá grávida, porque não acho que tenha dado um abraço gratuito nela assim algum dia da minha vida (tadinha). Bom, desculpa ter me estendido agora no final, mas foi você quem pediu! Brincadeira. Obrigado pela sessão hoje; tô bem feliz de estar sem fumar, muito obrigado mesmo. Então boa tarde e até semana que vem! Ah, sim, não vou me esquecer do texto não!


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