Canícula - Um poema
- Algum Lucas
- 30 de ago. de 2023
- 1 min de leitura
Canícula
Quando até os pelos do corpo
me doem
e as horas derretem-se
em caldas de tempo
que não foi,
sei que poderia matar na praia
um árabe
ou aceitar a eternidade no inferno
gelado de Dante.
Nestas noites quentes,
os segundos ficam terceiros,
mais distantes,
e os quartos sequestram
as correntes de ar que me juravam
resgate.
Nesta sequência,
sei-me não mais em uma noite
quente
— sei-me no quinto dos infernos e, de repente,
me surge no horizonte o primeiro
raio de sol que me anuncia
a já impreterível derrota.
Algum Lucas, sempre com medo do verão que vem aí.
Quem usava o termo 'canícula' era minha avó, que por acaso tinha pavor do verão, no final ela até acabou entrando em processo de negação com o negócio do verão e tal. Era janeiro ou fevereiro e ela de barrete e meias. Parece que esse poema interagiu com muitos sentimentos dela e dos paranaenses.